sábado, 25 de agosto de 2007

O exato momento

Agora vejo que aquele não poderia ter sido só um beijo. Comum e esquecível como tantos outros que se beijam nos finais de noite, às portas dos prédios, dentro dos carros. Uns ansiosos e demorados, outros sem vontade e preguiçosos. Outors, como aquele, completamente inesperados. Agora, percebo que o ar naquele momento se adensou, e se moveu, lenta e colossalmente como a montanha que vai a Maomé. Irreversível, mudando de alguma maneira o espaço ao seu redor. No dia seguinte, quando cheguei em casa com a cabeça pesada de ressaca, o estômago cheio de fast food e o espírito estranhamente leve, procurei ainda pelos cantos do apartamento algum resquício daquela vida antiga que eu levara até o dia anterior.
 
Passei ainda muitas semanas, meses, procurando sem saber. Sem determinação - na verdade beirando o descaso, porque eu não sabia exatamente o que procurava e tampouco se realmente queria encontrar. Hoje sim me dei conta, o que era que me faltava de alguma maneira. A solidão que eu com muito carinho havia criado, e com quem havia me habituado a conviver, movida por um estranho sentimento de proteção e orgulho de ser auto-suficiente.
 
Hoje, quando acordei para a cama vazia, o lençol desdobrado, o travesseiro amassado e frio, era para ter sido solidão. Mas foi dor e vazio.

Um comentário:

descalça disse...

:(
(queria dizer mais..lembrei do pq...)