segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Tarde e fim de tarde

Especialmente quando os prédios estivessem longe e o céu azul.

Há um momento durante a tarde, antes de a luz ficar amarela e envelhecida, ainda no auge da tarde, em que o mundo pára. Não há pressa, nem urgência, nem pendência. Não enquanto os gatos se banham com a língua e os passarinhos com areia. São 15 ou vinte minutos em que o vento balança as folhas nas árvores e leva de passeio os papéis no chão. É nessa hora que o cobrador varre o chão do ônibus, que a vizinha esquenta a água do café, que o tio da perua manobra o carro. Tudo em silêncio. Ninguém sabe, mas é como se a tarde fizesse uma enorme prece, cantada baixinho no barulho da buzina da bicileta, no pio do do tico-tico, na pressão da panela e na aula de piano.

Até os camelôs ficam em silêncio enquanto os pés sujos de rua fazem pular a sombra comprida no asfalto morno. Ela brinca de amarelinha, sozinha.

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