segunda-feira, 5 de novembro de 2007

o que Luciano Huck deveria ter aprendido com Silvio Santos

Ok, todo mundo já está careca e a discussão está batida. Mas, não sei
como, vira e mexe alguém fala no caso do Luciano Huck de novo. E eu
tinha ficado bem quietinha até agora porque 1) não li o artigo do dito
cujo 2) não li nenhuma crítica da "classe média pequeno burguesa" que
foi criticada pela Veja. Em suma, não acompanhei nada em primeira mão,
e é só daqui, do alto da minha percepção distante, que eu lanço minha
opinião.

Não é difícil entender, na verdade, o lado de ninguém. Eu ia começar
pela classe média, mas mudei de idéia. Luciano Huck parece ser um
jovem honesto e esforçado. Começou a trabalhar cedo e teve o suor e o
talento devidamente reconhecidos. Teve o azar de nascer muito rico,
mas compensa isso fazendo um trabalho assistencial muito bem feito em
alguma favela do Rio de Janeiro, onde capacita jovens pobres a
trabalhar no mercado do áudio-visual (não é um mercado muito quente
nem promissor, diga-se, mas pelo menos o Rio tem o Projac - já é
algo). Ele também é um idealista, escolheu não andar de carro
blindado, mesmo depois de ter sido seqüestrado. Em meio a tanta
retidão moral, Luciano Huck foi assaltado em plena luz do dia, num
bairro de classe alta de São Paulo. Levaram-lhe o Rolex. Huck ficou
devidamente indignado.

A classe média soube da indignação de Huck pela Folha de S.Paulo. O
Brasil que lê a Folha de S.Paulo às vezes a gente se esquece da classe
média e pensa que no Brasil só existe Fome Zero e corruptos.
Miseráveis e milhonários. A própria classe média se esquece da classe
média porque, verdade seja dita, ninguém quer ser classe média. (Seu
chuveiro fica pelando quando o vizinho de cima dá a descarga? Junte-se
a nós e leia Mario Prata) Mas é a classe média quem enfrenta,
diariamente, a violência. Numericamente, quem sofre mais o efeito da
violência é essa gente, que não tem carro blindado, nem segurança, nem
motorista -- por falta de opção. Que às vezes nem carro não tem, nem
grade no portão, nem ônibus que faça o trajeto da concessionária que
foi descredenciada e ninguém subtituiu. Gente que no caminho de casa
para o trabalho corre o risco diariamente de ter, não o relógio, que
esse não vale nada, mas o dinheiro amassado, o celular que ainda não
foi pago, a segunda via dos documentos.

Quando a classe média soube da indignação de Luciano Huck, idignou-se
justamente. Não que não seja possível entender o lado do famoso e bem
casado apresentador. Mas quem é que vai entender o lado da classe
média, que sofre diariamente a violência e, por não ser rica nem
famosa nem bem casada nem da Globo, não pode manifestar sua
indignação?! Luciano Huck foi vítima sim -- de sua própria falta de
tato. Porque não discutiu nenhuma proposta, nenhuma crítica pontiaguda
que leve a alguma ação. Mostrou para a classe média o que a classé
média já conhece de velha.

Devia ter feito como seu Silvio Santos, que distribui dinheiro e chama
as mulheres da platéia de colegas de trabalho. E as mulheres da
caravana de Piraporinha do Bom Jesus se enfileiram pra ver ele rir
charmosamente e não fazer nada pra melhorar o Brasil.

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